Tuesday 27 September 2011

Tróia

Decidimos passar um dia diferente e resolvemos ir até Tróia.
Levantamo-nos cedo para preparar o pic-nic para todos.
A mistura explosiva de excitação e cansaço resulta em birras e rabujice generalizados.
As coisas acalmam um pouco quando embarcamos no navio que faz a travessia do Tejo.
A brisa levanta os ânimos.

Continuamos o caminho. Sei que quero ir para uma praia isolada.
Procuramos um lugar onde parar o carro.
Desembarque de filhos, malas, pranchas, sacos de comida, sacos de toalhas.
Entramos nas dunas. A praia é já ali à frente atrás da duna…

Depois da primeira duna ficamos desiludidos por perceber que afinal a extensão de areia se prolonga até outra duna. As crianças começam a resmungar. Pegamos nos mais pequenos às cavalitas e encorajamos os mais velhos: “é já ali… Vamos já para a água… Está quase…”

Subimos a duna e finalmente vemos… mais areia.
Mar, nem vê-lo. Lanço um olhar para avaliar o ânimo do meu marido. Está imperturbável. Ignoro os protestos dos mais velhos e continuamos a caminhar. Agora em silêncio. Está calor, muito calor e sinto o sol a queimar-me os braços.
Tentamos aliviar o ambiente com piadinhas e músicas. Estamos a andar há 20 minutos…

Finalmente chegamos à ultima colina.
“Já estamos a chegar!! Consigo ouvir o mar!”
Não obtenho qualquer resposta.
“Se a praia não estiver atrás desta duna, fazemos o pic-nic aqui nas dunas.”

“Olha podia ser pior, digo para o meu marido, tentando aliviar um pouco a tensão. Imagina esta caminhada toda e agora chegávamos a uma praia de nudistas…”
O meu marido pára, vira-se para trás e fica a olhar para mim…

Subimos a duna a rir. Um rir nervoso.
Estamos quase a chegar ao topo. Vejo o mar!
“Olhem o mar!! Estou a ver o mar!”

Noto que o meu marido abranda o passo. Ultrapasso-o para conseguir ver primeiro o mar, finalmente o mar.
Um movimento na areia do meu lado esquerdo atrai o meu olhar.
Vejo um senhor sentado nas dunas. Apercebo-me que está agachado atrás de um arbusto.

“Se calhar é só…”
“Não. É mesmo um mirone.” diz o meu marido.

Continuamos a caminhar. Ao mesmo tempo que surge o oceano à nossa frente reparo num chapéu de sol amarelo, mesmo ao lado do nosso caminho, quase nas dunas. Não há qualquer dúvida sobre o tipo de actividade que está a decorrer debaixo do chapéu. Abrando mas tento não parar. Agora não há volta a dar. Pelo silêncio que me segue, sei que todos estão a partilhar a mesma cena. Olho para trás e vejo o meu marido parado a apressar o passo dos mais velhos, tentando tapar com o corpo o chapéu de sol amarelo. “Vá, despachem-se lá. Toca a andar…”.
O pequeno que está às suas cavalitas arrisca-se a um torcicolo ao tentar virar-se para trás para perceber o que todos estão a ver.


Continuo a avançar. “que estes sejam os únicos. Que estes sejam os únicos. Que estes sejam os úni…”
O meu pensamento é interrompido com a visão de um casal cinquentão que se passeia à beira-mar. Totalmente, completamente, absolutamente nuzinhos, sem um único trapinho.
Outro casal está sentado com os pés na areia. Pela falta de marca na cintura não preciso esperar que se levantem para saber que também não usam fato de banho.
Outras pessoas estão na praia. Umas sozinhas. Outras em grupo. Umas sentadas, outras a andar ou a jogar à bola (sim, à bola…).

Espero pelos meus filhos e encorajo-os a não parar enquanto me dirijo a um lugar mais isolado na praia.

Arrastam as pranchas pela areia e andam a passo de caracol. Olham de soslaio para tentar recolher o máximo de informação sem dar nas vistas. Mas o esforço é tanto que se esquecem de fechar a boca.

Aposto que dentro de 10 minutos vou concretizar o meu desejo e ter uma praia deserta só para nós…

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