Tuesday 1 February 2011

Há mais palhaços no circo

Qualquer ajuntamento de mães leva sempre a um único tema de conversa: os filhos.

Lembro-me de, em tempos longínquos, ficar exasperada sempre que era obrigada e interagir com uma manada de mães. Revirava os olhos, suspirava e pensava que a maternidade levava certamente à morte de uns quantos neurónios… Jurava para mim própria que nunca seria assim…

Como em muitas outras coisas na vida, com a idade, tive que engolir todas as minhas palavras, resoluções e críticas.

E agora faço parte da manada…

Há dias estava com umas amigas e rapidamente começamos a partilhar as nossas experiências.

Sei que relato aqui sempre aventuras na primeira pessoa, mas vou abrir uma excepção.
Porque esta história fez-me rir. Fez-me sentir bem por saber que há mais mães com histórias como as minhas.

Porque não nos sentimos tão mal quando sabemos que não somos os únicos palhaços do circo…

Por isso quero partilhá-la convosco.

A minha amiga Sofia (nome fictício) é uma jovem mãe. Tem três rapazes com 2, 4 e 6 anos.

Como todas as mães, está sempre a correr.
Certo dia chega a casa e estaciona o carro na garagem do prédio.
O Martim, 2 anos, está a dormir na cadeirinha atrás dela.
Agarra nos sacos de compras, sai do carro e fecha a porta.

Quando tenta abrir a porta de trás para retirar o Martim do carro apercebe-se que esta está trancada. Pousa os sacos no chão e começa a procurar a chave. Ao fim de um bocado, já enervada e com o conteúdo dos sacos espalhado no capot do carro, olha para o interior do carro e verifica com um aperto no coração que a chave está na ignição.

Trancou a chave dentro do carro. Pior, trancou a chave e o filho dentro do carro…

No lugar de passageiro está a mala dela, com telemóvel e chaves de casa.

Tenta reprimir a vontade de gritar e procura controlar o pânico que lhe faz apertar o nó que sente na garganta.
Contorna o carro. Experimenta todas as portas e a mala. Verifica freneticamente se todos os vidros estão fechados, se não existe nenhuma brecha…
Após alguns minutos a esperança desvanece. O carro está selado.
Por momentos considera a hipótese de partir o vidro para retirar o filho do carro.
Olha para o Martim, que, confortável na sua cadeirinha, continua a dormir.
Não o quer assustar, por isso não há muitas soluções… Vai ter que deixá-lo sozinho para procurar ajuda…

Sobe as escadas do prédio a correr e vai bater a todas as portas dos vizinhos.
Corre até encontrar alguém em casa. Tenta explicar-lhe o que se está a passar e pede-lhe o telefone para ligar para o pai, que tem uma chave da sua casa.

Finge não ver o olhar reprovador do vizinho (“Que tipo de mãe é esta que tranca o filho no carro??”) enquanto explica o sucedido ao pai. Pede-lhe para vir ter com ela com a chave de casa. Em casa dela está a chave suplente do carro.

O Pai promete ir de imediato em seu socorro mas está no emprego. Terá que sair do trabalho, ir até casa dele buscar a chave e, de seguida, ir ter com ela. Vai demorar um pouco.
Aliviada, agradece ao vizinho e regressa a correr para a garagem.
Quando chega ao carro o Martim está acordado. Sossegado não parece estar assustado.
A Sofia coloca-se junto ao vidro e, tentando disfarçar o pânico que sente, sorri para ele.
De repente ocorre-lhe que uma ideia.

“Martim… Martim!!”

O Martim olha para a mãe.

“Martim, tira o braço do cinto…”

“?!?”

“Martim, filho, ouve a Mamã. Tenta tirar o bracinho do cinto… Com o braço esticado agarra neste botão aqui” aponta para a botão que tranca a porta “e tenta puxá-lo para cima”

O Martim olha para ela mas parece não estar a perceber o que a mãe lhe está a dizer.
A Sofia suspira. Não sabe se o Martim não a percebe ou se não a está a ouvir.
Não quer gritar para não deixar transparecer o seu desconforto.
Junta-se ao carro e coloca a boca perto do vidro do carro.

“Martim… puxa este botão para cima…”

O Martim inclina-se para a frente e estica o braço.

“Isso filho! Isso! Agarra este botão e puxa…”

Mas o braço do Martim afasta-se do botão em questão. Inclinado para a frente parece estar a tentar alcançar o brinquedo que está aos pés do assento.

“Não Martim!! Este botão aqui! Puxa este botão aqui… Martim, ouve a M…”

De repente o vidro da porta começa a baixar.

Boquiaberta vê o filho a largar o manípulo do vidro da porta.

Endireita-se e olha para ela com um olhar inquisidor.

“Diz, Mãe? Não conxigo ouvii o que dixes…”

“If you ever start feeling like you have the goofiest, craziest, most dysfunctional family in the world, all you have to do is go to a state fair. Because five minutes at the fair, you'll be going, 'you know, we're alright. We are dang near royalty.'”
Jeff Foxworthy

1 comment:

  1. Lindo =)

    Por momentos pensei ter perdido o rasto ao blogue mas graças ao Facebook... Voltei a encontra-lo e adoro ler as aventuras =)

    Beijinhos ;P

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