Thursday 18 November 2010

Laços

Numa festa em casa de amigos.

Entre as crianças presentes está o Vasquinho.

O Vasquinho antigamente não queria nada comigo mas ultimamente a nossa relação tem evoluído.

Noto que me procura para pequenas brincadeiras. Gosta que lhe faça cócegas e que ameace mordê-lo até ele me dar um beijo.

Estou sentada quando de repente o vejo a correr na minha direcção.

“Xixi! Xixi!” Agarra-me a mão à espera que lhe solucione o problema.

Levanto-me e vou com ele à casa de banho.

Sinto-me feliz por esta demonstração de confiança por parte do Vasquinho. Escolheu-me a mim!

Caminho erecta até ao local. Estou orgulhosa pela minha promoção oficial a “Madame Pipi” (as senhoras que tomam conta das casas de banho em locais públicos no norte da Europa).
É uma distinção a que nem todos têm direito. É uma honra!

Chegamos à casa de banho e o Vasquinho levanta a tampa da sanita.

Fico admirada pela sua destreza.

“Já fazes xixi em pé? Como os homens? Muito bem! Estás a ficar muito crescido!”

Não o quero desconcentrar, mas é importante alimentar-lhe a auto-confiança.

Está feliz pelos elogios e eu feliz por estar aqui com ele.

Aos 25 anos nunca poderia ter imaginado sentir esta satisfação por levar um menino de 3 anos à casa de banho…

A minha vida mudou muito…

De repente o som de um pum perturba esta harmonia.

“Ohhh! Cócó…”

“Queres fazer cocó?” Preparo-me para levantá-lo e sentá-lo na sanita.

“Não… Já fiz…”

Como assim já fizeste? Baixo o olhar e ao mesmo tempo que vejo uma mancha a aparecer no chão o fedor atinge as minhas narinas.

“Não te mexas!”

O cocó escorre-lhe pelas pernas abaixo. Passa os calções, inunda o interior das Crocs e espalha-se pelo chão da casa de banho.

Estou dilacerada entre a vontade fugir dali para fora e o dever de enfiá-lo no chuveiro.

Não!

Esta é a minha missão!

Ele escolheu-me!

Não o posso deixar mal!

Tiro-lhe os calções e os sapatos para lavá-los no lavatório. Limpo o meu amigo no chuveiro com a ajuda da mãe que entretanto aparece.

Passo o resto da tarde com o cheiro a cocó a perseguir-me.
Pensei que fosse devido ao trauma, mas quando cheguei a casa à noite percebi que era uma manchinha de cocó que tinha ficado no cotovelo.

Mas tudo valeu a pena.

Porque este trauma aumentou a nossa cumplicidade.

Estamos unidos por algo mais espesso que o sangue… São laços de cocó…

Be courteous to all, but intimate with few, and let those few be well tried before you give them your confidence. True friendship is a plant of slow growth, and must undergo and withstand the shocks of adversity before it is entitled to the appellation.
George Washington

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