Monday, 28 June 2010

Colorido...

Num supermercado com a benjamim (3 anos e meio) à espera de ser atendida no talho.

No pequeno grupo que está nas mesmas condições está um casal de cor simpático que se deixa conquistar pelos olhos grandes e os caracóis dourados que conferem um ar angelical à minha filha.
Perguntam-lhe a idade, mas ela com vergonha (eufemismo para o seu mau feitio - a sua alcunha familiar é “bicho do mato”) não responde. Desvia o olhar. Agarra-se à minha perna e esconde-se, mas vejo que captaram o seu interesse. Observa-os de soslaio, evitando sempre cruzar o olhar com o casal simpático, mas já está no modo de “exibição” com gracinhas e parolices.

Já estou a ver a sua cabecinha a fumegar. Olho para os números das senhas. Bolas, ainda faltam 8. A pirralha continua a observação. Pressinto um desastre se não sairmos daqui...

“Mãe, eu sei como é que se diz preto em inglês…”

Fico com o sorriso congelado nos lábios.

Não tenho como explicar que não é nem nunca foi uma expressão utilizada em casa. Nem que foi dito sem maldade. Tudo o que eu disser a partir de agora só vai piorar a situação…

A minha filha olha para mim orgulhosa, verificando com olhares indirectos que mantém a atenção da assistência. Se calhar é impressão minha, mas parece-me que algumas pessoas do grupo à nossa volta sustiveram a respiração…

“Ah sabes?”

“Sei. É black!”

Procuro não olhar para as pessoas em nosso redor. Mantenho o sorriso crispado.

“Muito bem! E rosa?” olho para o casal com uma expressão que pretende significar “ah, estas crianças, dizem com cada uma”.

“É pink!”

“Sim senhora! Muito bem”
(tenho que mudar o tema…)
“Hoje queres comer hamburguer?”

“Sabias que preto é black?”

suspiro

“Sim, sabia. E tu sabes dizer branco?”

“É white... E preto é black!”

Sorrio. Olho para o quadro. Ainda faltam 6 pessoas.

Que se lixe o bife. Hoje comemos douradinhos ao jantar.

Silence is golden when you can't think of a good answer.
Muhammad Ali

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