Com o final do ano lectivo vêm sempre as festas de final de ano lectivo. Este ano participei pela primeira vez activamente na festa da escola dos rapazes. E o que vi assustou-me…
As crianças treinaram e ensaiaram para apresentar um espectáculo para os pais e familiares. Estavam excitadíssimos. A festa começou à tarde e a escola encheu-se rapidamente de pais, avós, irmãos, desejosos de participar. Aos poucos foram ocupando os lugares que lhes estavam reservados. O espectáculo iniciou-se com as músicas e danças dos pequenos do Jardim-de-Infância.
Como fazia parte da “organização” circulava pelas diferentes zonas da escola.
No refeitório (que estava fechado durante o espectáculo) estavam montadas as mesas com a comida.
Estava um grupinho de “pais” aglomerados junto à porta do refeitório. Quando passei uma das “senhoras” gritou-me:
“Quando é que isto abre?”
Olhei em redor para confirmar que a pergunta me era dirigida.
“O refeitório? Penso que só abre depois do espectáculo…”
“O quê?! É uma vergonha! Porque é que não está aberto agora?!”
Ok, confesso. Tenho uma aversão e muito pouca tolerância para algumas coisas, nomeadamente: telenovelas, má educação, peixeiradas, gritos, idiotas e histéricas. Lido mal com elas e esta senhora conseguia o feito incrível de reunir 4 itens desta lista.
Inspirei fundo. Forcei um sorriso. Baixei o volume e o tom de voz e respondi-lhe:
“O refeitório abre quando terminar o espectáculo…”
“O quê? (expressão que adoro…), grita para ver se agrega o apoio dos outros presentes, mas queremos entrar agora! Ainda falta muito e as crianças estão cheias de fome!! É uma vergonha!!” (outra que adoro)
Hesitei. Olhei em redor. Passei os olhos pelo grupinho à minha frente. Procurei nos cantos mais afastados…
“Quais crianças? As que estão no palco a cantar para os pais que em vez de apoiá-los estão aqui a tentar apanhar o primeiro croquete?”
Fez-se silêncio. O pequeno grupo desfez-se e dirigiu-se a murmurar (insultos?) para o exterior.
Depois do espectáculo toda a comunidade dirigiu-se para o refeitório. Fiquei incrédula a assistir à abertura das portas. Lembrei-me do verão em que trabalhei no Casino do Estoril. O melhor momento do dia eram os 30 minutos que antecediam a abertura das portas com os “habitués” aglomerados na entrada (barrada por vários seguranças) à espera do toque de entrada. A impaciência multiplicava as cotoveladas e as zaragatas eram frequentes. À hora certa (16h.) as portas abriam-se e os seguranças mergulhavam (literalmente) para o lado para não serem atropelados pelo grupo de velhinhas (aparentemente inofensivas), velhinhos, homens e mulheres que corriam (sim, corriam) até à “sua” máquina instalando-se nos “seus” banquinhos para toda a tarde e noite.
A abertura das portas do refeitório foi em tudo idêntica. Os “pais” correram (CORRERAM) para as mesas para tentar enfiar o máximo de salgadinhos pela goela abaixo no mínimo tempo possível. Vi pessoas (malabaristas) a segurar em 3 e 4 pratos de plástico carregados de comida ao mesmo tempo. Tudo isto sem crianças à vista… Vi senhoras respeitadas encher saquinhos de plástico ou guardanapos com comida e enfiar os tesouros nas malas. Vi pessoas deixar cair para o chão o meio bolo que tinham colocado num dos pratinhos e, em vez de o apanhar, dar-lhe um pontapé, regressar à mesa e levar a outra metade do bolo…
Quando as crianças conseguiram chegar à mesa, metade da comida já tinha desaparecido.
Claro que nem todos os adultos presentes se comportaram desta forma. Mas a vaga inicial de 30 ou 40 esfomeados desfez em segundos todo o trabalho de decoração dos voluntários.
Estava a assistir a isto tudo quando vejo o meu marido a dirigir-se para uma das mesas rodeado da sua (nossa) prole. Esperava pacientemente a sua vez quando uma velhinha mergulhou para a mesa, empurrando para o chão uma menina com 5 anos que estava junto à mesa, mesmo à frente da minha família. Vi a expressão do meu marido mudar. Este homem normalmente tão calmo estava furioso. Baixou-se para ajudar a menina a levantar-se do chão. Deu-lhe a mão e mandou os filhos afastarem-se. Avançou e deu um encontrão na senhora, empurrando-a para o lado.
“Com licença. Esta menina estava à sua frente.”
Ela olhou para ele, abriu a boca para dizer qualquer coisa mas mudou de ideias e afastou-se. O meu marido ajudou a menina e depois chamou os seus para fazer o mesmo.
Quando chegou perto de mim disse-me: “Viste aquilo?”
Acenei em silêncio, olhando embevecida para “meu homem”.
“Só não lhe dei com o cotovelo na boca porque era uma mulher.”
Não há nada mais sexy do que o instinto protector do homem das cavernas num embrulho actual com glúteos e abdominais firmes…
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