Tuesday, 10 August 2010

A desgraça alheia

Estamos de férias.
Está calor.
Aos poucos largamos os ritmos do dia-a-dia e vamos criando rotinas novas.

Antes de levantar os miúdos visto o biquíni e uns calções.

Acordo-os abrindo os estores e as janelas e começamos o dia da forma habitual: moche familiar numa cama. Rebolamos. Os mais pequenos prolongam mais um pouco os mimos enquanto os maiores se libertam mais rapidamente.

Estou a trincar os pequenos. Riem-se deliciados com as cócegas.
- Estás gia Mãe!

Ah! Os prazeres da maternidade! Sinto-me bem. Estou feliz.

O meu filho mais velho observa tudo a alguns passos de distância.
- Oh Mãe, eu acho que estás um pouco esquisita.
- Achas? Ainda embriagada pelo cheiro da noite
- Acho. Parece que estás…
- Sim?
- Grávida!

Crash brutal para a realidade. Dissipou-se instantaneamente todo o amor que havia no ar.
Instintivamente encolho a barriga.
- Ou isso ou estás gorda…

Já não corre uma gota de felicidade nas minhas veias.

Meço a distância que me separa do monstro. Está a um pulo de ser agarrado pelo pescoço e de levar um caldo. Com um pouco de sorte consigo fazê-lo sem pisar os mais pequenos.

Deve ter lido o meu pensamento porque levanta-se de repente e corre refugiar-se na casa de banho.

A minha filha fica a olhar para mim.
- É veidade, Mãe? Tens mesmo um bebé na barriga?
Coitadinha, está admirada e contente…
- Se tivesse gostavas mais que fosse um mano ou uma mana?
- Uma mana.
- E como é que querias chamar a tua mana?
- Uhmmm… Não xei.

- Mana, se beijares a barriga da Mãe é como se estivesses a beijar a mana nova. Ri-se histericamente. Seguro atrás da porta fechada.

- Poxo Mãe?
Suspiro
- Podes (se não consegues vencê-los…)

Desço com a benjamim. Vai a correr abraçar o Pai.

- Não vais acreditar no que o TEU filho me disse…
- ?!
- Estava sentada na cama dele e …

- Olha Mãe! O Pai também tem um mano na barriga! Poxo dar-lhe um beijinho também?

“Le malheur des uns fait le bonheur des autres”

Voltaire


Ou então…


“Peut-on rire du malheur des autres ? Ca dépend... Si le malheur des autres est rigolo, oui.”
Phillippe Geluck


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