Monday 19 July 2010

Em silêncio...

A casa de férias que alugamos todos os anos tem uma piscina privativa no jardim. É fantástico porque proporciona grandes fins de tarde depois da praia mas deixa-me apavorada com a possibilidade de acontecer algum acidente. Como a piscina fica no mesmo piso que os quartos, passo o tempo a verificar se as portadas estão todas fechadas e todos menores são briefados sobre a proibição de abrir as janelas sem a presença de um adulto. Estão aliás proibidos de ficar nos quartos durante o dia quando os adultos estão no primeiro piso. Mesmo assim coloco sempre alguma coisa do lado de fora de modo a impossibilitar a abertura das portadas pelo interior e impedir o acesso à piscina. Paranóias…

Depois da praia, estamos todos no jardim.
Sou obrigada a passar o tempo dentro de água porque tenho medo que alguém se distraia. Todos frequentam a piscina durante o ano e apesar dos mais pequenos ainda não saberem nadar não têm medo da água nem consciência dos seus perigos …

A mais pequena e a prima pequena têm as barbatanas, os mais velhos e a prima grande estão a fazer um concurso de mergulho. Estou encostada na parte funda da piscina, a namorar com o meu marido que está deitado numa espreguiçadeira. Está um lindo dia…

O Daniel passa por mim a rir-se e contorna a piscina. Tem os óculos de mergulho mas tirou as barbatanas para jogar à bola. Está ridículo...
Coloca o pé em falso e cai de cabeça na piscina, mesmo ao meu lado.

A queda dele não faz nenhum salpico nem nenhum ruído. Se eu estivesse fora da água, mesmo perto da piscina, provavelmente nem a teria ouvido.

- Espera, deixa ver o que ele faz.

Reprimo o instinto de agarrá-lo e fico a observar a sua reacção com curiosidade.
Continua de cabeça para baixo dentro de água e vai ao fundo. Apesar de saber mergulhar não tem o instinto de bater com as pernas ou os braços. Será do susto? Chega ao fundo da piscina e deixa-se estar. Conto até 5. Tem os olhos abertos, mas continua sem esboçar qualquer movimento.

Mergulho e trago-o para cima. Imagino que mal saia da água vai começar logo a gritar...

Nada, nem um som… Agarra-se ao meu pescoço. Inspira uma grande lufada de ar. Tem os olhos esbugalhados mas não diz nada.
Não tosse. Não fala. Não grita. Não chora…

Mesmo que tivesse conseguido vir sozinho à tona, não teria o instinto de chamar por ajuda. Iria outra vez ao fundo…

- Então Píri? Assustaste-te?
- …
- Não sabes que quando tocas no fundo da piscina tens de bater com os pés no chão para voltar para cima? Não foi o que aprendeste na natação?

Não há resposta. O pânico tirou-lhe a voz… Limita-se a agarrar-se com força ao meu pescoço.

Vem-me à cabeça a campanha sobre os afogamentos: “A morte por afogamento é rápida e silenciosa”.

Não pode haver distracções. Não existe excesso de zelo…

1 comment:

  1. É verdade... Também apanhei um susto desses com o meu filhote mais novo há dois anos... Estávamos todos sentados à beira da piscina. Ele sentadinho entre os irmãos. Caiu na piscina sem um som e ficou parado de costas com o chapéu ao lado a boiar... Se não estivesse mesmo ali ficava mesmo assim...
    É um verdadeiro pesadelo...

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