Sunday, 23 May 2010

Doloroso

Hoje, encerramos o dia de uma forma já habitual: a patinar. Temos sempre os patins no carro e aproveitamos qualquer oportunidade para realizar jogos de “hóquei” familiares.

Devo aqui fazer um parêntese para esclarecer que sou a única “não hoquista” da família. Os meus dotes de patinagem resumem-se a saber “circular” (unicamente para a frente). A minha táctica para retirar a bola ao adversário durante o jogo é por isso muito simples: patinar com alguma velocidade directamente para ele e tentar retirar-lhe a bola. Como não sei travar, disponho de uma única tentativa. Esta táctica tem sempre um de dois resultados: sigo em frente com a bola e a jogada continua. Ou, sou driblada, e sigo em frente sem a bola e a jogada continua (sem mim). Como jogo com crianças com metade do meu tamanho e um terço do meu peso, por vezes até consigo marcar um golo… No entanto hoje o meu marido* decidiu juntar-se ao jogo e, claro, como reforço da equipa adversária.
*o meu marido, o jogador federado de hóquei em patins durante 33 anos…

Não irei entrar em pormenores. Apenas direi que perturbou o frágil ecossistema do nosso campeonato habitual.

Durante o jogo, numa das minhas jogadas para lhe retirar a bola, teve a audácia de se atravessar DE PROPÓSITO no meu caminho.

Tentei desviar-me e desta tentativa resultou uma queda aparatosa que culminou na minha imobilização numa posição idêntica aos devotos de Alá quando rezam voltados para a Meca: prostrada com joelhos e cara no chão e rabo no ar.

Devo aqui fazer mais um parêntese: existe uma razão pela qual os jogadores de hóquei usam joelheiras e nunca (NUNCA) brincos e óculos de sol durante os jogos.

Rebolei e fiquei deitada de costas no chão, imóvel, tentando perceber o que me doía mais. Fiquei em silêncio enquanto o meu marido tentava perceber a mesma coisa. O meu instinto imediato foi culpá-lo da minha (primeira) queda e preparar-me para o castigar. Penso que ele estaria com a mesma linha de pensamento porque aparentava estar muito preocupado…

O meu sentimento seguinte foi de alívio por esta minha humilhação não ter ficado registada para a posteridade (tarefa normalmente a cargo do meu marido). Não corro o risco de ver a minha proeza no youtube…

No chão procedi a uma avaliação dos estragos:
Mãos: esfoladas e doridas;
Joelhos: esfolados (e negros num futuro próximo);
Óculos: riscados e torcidos;
Brinco direito: riscado e torcido;
Furo da orelha direita: tribal (= dá para um brinco tipo anilha)
Face direita: esfolada da testa ao queixo

Balanço:
As mãos estão doridas e esfoladas, mas ainda apresentáveis
Os joelhos poderão ser escondidos atrás de calças;
Os acessórios podem ser substituídos;
A orelha, paciência;
A face, nada a fazer. Não há forma de disfarçar/camuflar. Afastei do pensamento o receio do ridículo (inevitável) que irei passar no trabalho.

Mas o que mais me dói mesmo, o que está esfolado, ensanguentado e incapacitado é o meu orgulho… Não sei quanto tempo levará a restabelecer-se…

"Not every age is fit for childish sports".
Titus Maccius Plautus (254 BC - 184 BC)

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