Alguém pode explicar-me o significado do “ajudar” no casamento? Vou ser mais específica e exemplificar: “O meu marido é excelente, ajuda-me imenso.”. É um comportamento positivo que, em concentrações de mulheres no local de trabalho ou em situações sociais, é aprovado e confirmado por algumas e invejado por muitas. Algumas partilham abertamente histórias das proezas dos esposos dotados (“o meu até estende a roupa quando a empregada não vem”) outras reconhecem abertamente que não têm a mesma sorte e outras ainda fingem fazer parte do “grupo das sortudas com maridos dotados para as lides de casa”. Mas todas reconhecem o valor da atitude excepcional do dito marido.
Ora, tenho alguns problemas com a parte do “ajudar” na expressão. Porquê? Porque implica que a responsabilidade da lida da casa é nossa… só por sermos mulheres!
Devo ter faltado às aulas no dia em que o professor de biologia explicou quais são as hormonas que nos tornam dotadas para a manutenção do estado de higiene e conforto do lar… Se calhar como não me foi explicado, o meu corpo, desconhecendo essa informação, não desenvolveu a dita hormona. Digo isto porque posso dizer com toda a franqueza que não retiro o mínimo prazer de qualquer tipo de trabalho doméstico, com excepção da jardinagem. Não me venham falar das alegrias que sentem quando estão a engomar ou de como se sentem livres quando arrastam o aspirador pela casa toda porque não consigo perceber. Para me sentir bem comigo, nada como uma corridinha com um bom duche a seguir, um bom passeio de bicicleta com toda a família, uma tarde de caminhada ou até uma passeio de comboio. Mas o cantar do patinho quando estou a lavar a louça? Não, não me provoca arrepios de prazer…
Claro que gosto de ter a casa limpa, arrumada e cheirosa, mas o facto de a conseguir manter nesse estado durante, no máximo, 15 minutos depois da chegada dos meus anões a casa fez-me compreender que é uma batalha perdida. Não sou definitivamente a Branca de Neve que, cantando, lhes arruma a casa. Desde que fui mãe contento-me com uma casa mais ou menos. Mais ou menos limpa. Mais ou menos arrumada. Mas muito, muito alegre.
Mas estou a divagar.
Onde é que está escrito que essa responsabilidade é nossa? Porque é que devemos estar gratas por termos um marido que nos abençoa com a sua ajuda??
Pensei que o casamento era uma parceria. Sendo uma parceria, não vejo nenhuma justificação para ter que acumular dois empregos: o verdadeiro (pago) e o pós-laboral (voluntário e altamente subvalorizado).
Quando conheci o meu marido, expliquei-lhe logo de início (nunca o quis enganar) que, derivado a um desequilíbrio hormonal, não podia assegurar a totalidade da lida da casa. Não se intimidou (por isso deve ser um dos “bons maridos”...) e partilhamos desde o início a totalidade das tarefas, apesar destas se terem multiplicado exponencialmente desde que começamos a procriar activamente. Não me ajuda. Faz a parte dele. E até posso dizer que por vezes (POR VEZES) até faz mais que a sua metade. Uma parceria.
Certa vez, numa conversa sobre relacionamentos num meio maioritariamente masculino, estava a tentar explicar a minha teoria da igualdade. Pelo silêncio e por alguns sorrisos condescendentes percebi que não estava a conseguir convencer ninguém… Parei para reflectir sobre a forma de fazê-los ver o meu ponto de vista. Tratando-se de homens, pensei que deveria condensar o meu discurso e retirar qualquer referência à igualdade dos sexos, pois esta estava a causar muito atrito. Simplificar…
“Se, ao fim do dia decidirem lavar a louça e arrumar a roupa engomada nos roupeiros enquanto a vossa companheira está a lavar e deitar os miúdos, para além de satisfeita, ficará muito mais “disponível” para cuidar do vosso casamento…
Touché!!!
As expressões alteraram-se. A informação foi devidamente registada e processada…
Às vezes é preciso saber falar a língua dos indígenas…
"La femme est capable de tous les exercices de l'homme sauf de faire pipi debout contre un mur." Colette
No comments:
Post a Comment