Tuesday, 9 February 2010

É normal??

É normal?


Há pouco mais de um ano conheci um colega de trabalho. O dia estava a correr normalmente e, numa da conversa habitual entre mulheres, ouviu-me dizer que tenho quatro filhos.


Esperou que estivéssemos sozinhos. Vi que ele estava hesitante. Começou por perguntar-me se era verdade que tinha filhos. Disse-lhe que sim.


Começou então a contar-me que a namorada dele, que ele adorava, estava grávida de poucos meses. Aos poucos foi-me dizendo que ela estava muito diferente da rapariga por quem ele se tinha apaixonado. Aparentemente a doce donzela (aqui está!!) transformara-se numa mulher ciumenta e insegura que arranjava discussões por tudo e por nada. Estas discussões acabavam normalmente de forma muito dramática com uma saída teatral ou com uma crise de choro incontrolável.


O pobre rapaz estava exausto e perdido.


Lembro-me da nossa conversa decorrer mais ou menos nestes termos:


“… e é normal ela que era tão segura duvidar agora de mim?”


“É, é normal…”


“… e é normal que ela não tenha paciência para nada?”


“É, é normal…”


“… e é normal que ela comece a chorar por estar a ver o telejornal?”


“É, é normal…”


Expliquei-lhe o tal fenómeno das alterações hormonais e do cérebro das grávidas (ver post 1).


Pareceu-me aliviado. Afinal ele não estava a enlouquecer.


Recomendei-lhe calma. Nesta fase e no pós-parto. Disse-lhe que a gravidez é cansativa e que a mulher inexperiente chega, regra geral, exausta ao momento do parto. Exausta das alterações físicas e da expectativa emocional. O parto é o culminar desse cansaço. E em vez de ter tempo para se recompor, a mulher passa a ter que tomar ininterruptamente conta de um pequeno ser que não a deixará descansar durante os primeiros três meses de vida. Nesta fase, o papel do Pai é fundamental para o bem-estar psicológico da mulher. É aqui que se distinguem os Maridos dos outros. É aqui que se constrói uma família…


Perguntou-me se ela alguma vez voltaria a ser a mulher que era. Aí confesso que menti um pouco e disse-lhe que sim (nunca mais voltamos a ser a mesma mulher, passamos a ser a mãe de alguém e também mulher dele). Assegurei-lhe que se ele tivesse paciência e aguentasse firmemente os altos e baixos (recomendei-lhe todavia que tentasse pedir à futura mãe que não tivesse comportamentos tão extremos que alterariam os sentimentos dele por ela), no fim, voltaria a ter a mulher por quem se tinha apaixonado. E que ela ainda o amaria mais por ele ter mantido o juízo quando ela não conseguira…


No fim perguntou-me quanto tempo ela ia demorar a voltar ao seu estado “normal”.


Vacilou um pouco quando lhe disse que se calhar, só seria depois da amamentação.


Reencontrei-o há alguns meses. Como não o reconheci logo, veio ter comigo. Lembrou-me da nossa conversa. Disse-me que na altura ponderava sériamente a hipótese de sair de casa. A nossa conversa fê-lo mudar de ideias. Aproveitou uma fase calma da futura mãe para lhe explicar o que se estava a passar com eles e para lhe pedir um pouco mais de contenção. E depois cerrou os dentes e aguentou-se…


A filha de ambos já tinha seis meses. Era Pai e estava radiante!


Fiquei feliz por esta família. Fiz-lhe a pergunta que toda a gente faz a novos pais: Quando é que vão ao segundo? Por instantes o seu sorriso desvaneceu. Pareceu-me vislumbrar terror nos olhos dele...
Respondeu-me com hesitação que a mulher já falava disso, mas que ele precisava de mais um tempinho…


Suponho que seria para se restabelecer de um pesadelo passado. Ou para se preparar para um novo…

"Happiness is nothing more than good health and a bad memory." Albert Schweitzer

No comments:

Post a Comment