Por motivos profissionais sou obrigada a passar uma semana em Maputo. Esta viagem não programada coincide com o início, não programado, de um novo projecto profissional do meu marido e com o fim, programadíssimo, da construção da nossa casa nova. Tradução: Não posso nem levar o meu marido nem deixar os meus filhos com ele, porque ele não pode fazer o que faz de melhor que é tomar conta deles quando não estou.
Até à última tento arranjar uma troca. Até à última espero uma solução milagrosa, mas nos dias que antecedem a minha partida rendo-me às evidências. Tenho que levar os três mais pequenos comigo. Trato, a correr, das formalidades necessárias para levá-los para Moçambique.
Chego ao dia do voo exausta, antes de começar.
Uma viagem de longo curso não é pêra-doce. Á noite e em económica ainda é mais dura. Acompanhada de 3 minorcas transforma-se numa odisseia. Desde a quase perda dos passaportes (que ficaram numa casa de banho do aeroporto) à organização das dormidas, numa posição quase vertical, tudo contribuiu para a minha chegada quase rastos ao nosso hotel.
Ao vê-los a correr no relvado à volta da piscina afasto de imediato qualquer hipótese de dormir um pouco, apesar de ainda serem 6h da manhã (5h para nós).
Sento-me à mesa do pequeno-almoço e os sons emitidos pelo meu estômago recordam-me que nem tive tempo de comer.
Quando termino a refeição sinto a moleza a invadir-me o corpo.
Em desespero peço um café, na esperança de conseguir manter os olhos abertos o resto do dia.
Os meus filhos aproximam-se da mesa. Olham para a minha chávena com surpresa.
“O que é que estás a beber, Mãe?”
“Café.”
“Café??” – nunca me viram a beber café, não temos sequer café em casa…
“Sim.” – só consigo responder por monossílabas.
“Porquê?”
“Porque dizem que o café acorda.”
“Ah é?”
“É”
“Quem é que diz?”
“As pessoas.”
“Quais pessoas?”
Suspiro.
“As pessoas que bebem café.”
“Ah é?”
“É.”
Espera.
“E funciona, Mãe?”
Suspiro.
“Não sei, depois digo-vos.”
Espera.
“Quando, Mãe?”
Suspiro. Olho em redor à procura do empregado e faço-lhe sinal para me trazer mais café. Sinto que vou precisar.
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