Ouvimos o ladrar da Gula.
“Deixaste o portão aberto?”
“Tu não o fechaste?”
“Eu não!”
“Vais fechá-lo?”
“Vou já…”
De repente ouvimos o som potente do ladrar da Kuka.
Olhamos um para o outro.
Vamos a correr para a porta para ver o que se passa.
Olhamos para o portão (que fica a cerca de 30m da casa). As duas cadelas estão lá. Estão agitadas mas sorrio ao ver que, apesar de o portão estar aberto, não passaram o traço que, no chão, marca o limite da nossa propriedade.
Aproximamo-nos delas.
Inicialmente não vejo a causa de tanta excitação. Ficamos perplexos a olhar para o que parece ser lixo espalhado na entrada do jardim. Olho para as cadelas. Não vejo nada mas continuam a ladrar. Estão as duas voltadas para o mesmo lado, olhando ligeiramente para cima. Acompanho o olhar do meu marido que procura a causa de tanta irritação. Olho para o caminho privado que dá acesso ao nosso portão. Não está lá nada. Como vejo todos a olhar para cima levanto também a cabeça e fico surpreendida por ver um senhor empoleirado no poste de electricidade que fica a uns 10 m. do portão.
Mando calar as cadelas.
“Sai!”
Afastam-se amuadas. Acabou a brincadeira…
“Estes cães são um perigo! Iam-me matando!!!”
“Pode descer, elas não fazem mal…”
(agarrado ao poste) “Não fazem mal? Não fazem mal? Iam-me matando!”
“Já lhe disse que pode descer.” noto alguma irritação na voz do meu marido.
“Não desço enquanto não as prender!!” não se mexe, decidido a ficar no mesmo sítio.
“Pode descer, elas não passam desta marca…”
Parece pouco convencido mas vai descendo enquanto se assegura com o olhar da retirada das feras.
“É um perigo, ter cães deste tamanho à solta…”
“Elas não estão à solta. Estão no nosso jardim, e não saem daqui. O senhor não precisa ter medo…”
“Isso diz o senhor. Elas atacaram-me!”
“Atacaram-no? Como? Elas não são agressivas e nunca saem daqui…”
“Atacaram-me sim senhora! Ia deixar-vos publicidade e mal tive tempo de fugir e subir para este poste.”
Olho em redor a tentar perceber o que se passou. As peças começam a encaixar-se…
“Ia deixar publicidade e fugiu? Então porque é que os folhetos estão espalhados no meu jardim? Porque é que entrou? Não viu que a caixa de correio fica do lado de fora do jardim, bem afastada do portão?”
“Vi, mas como vi o portão aberto e ia deixar os folhetos à porta da casa”
Visualizo a cena e reprimo uma gargalhada. Vejo-o a descer o caminho e, encontrando o portão aberto, a entrar sem hesitação. Deve ter morrido de susto ao ver 120kg de cão a correr na sua direcção a ladrar…
Acho que não vamos voltar a ler A Dica tão cedo…
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