Sunday, 28 February 2010

Estado de graça

Nunca entendi o “estado de graça” que se associa à gravidez. As minhas gravidezes foram todas desejadas mas “graça” não é um adjectivo que usaria para descrevê-las.


A não ser que fosse como piada:
“Esta gravidez deixa-te num estado muito cómico!”.
Ou: “As mulheres grávidas fazem-me sempre rir…!”


Quando estava grávida do meu primeiro filho também não senti que o amava antes de o conhecer. Quando fiz a primeira ecografia fiquei a pensar no feijãozinho que tinha visto. Só me lembrava do filme Aliens, e esperava que, a qualquer momento, o ser estranho que estava a crescer dentro de mim saisse aos gritos da minha barriga…


Quando acordei e o vi pela primeira vez, depois de um parto de quase 24 horas e de uma cesariana de urgência com anestesia geral, lembro-me de olhar para ele ao colo do Pai e de pensar: “nove meses dentro da minha barriga, 24 horas de sofrimento, e sai-me uma fotocópia do Pai… O mesmo cabelo preto frisado, a mesma boca e até as mesmas orelhas… Filho desnaturado!”


Não senti nenhuma onda de amor por este novo ser. Se calhar era por causa do cansaço. Se calhar por causa das drogas. Ou se calhar pela inexperiência nesta coisa de ser Mãe de alguém…


Escusado será dizer que me senti uma Mãe Falhada. O ser mais desprezível do Universo: uma Mãe que não sente um amor incondicional imediato pelo seu filho. Até os animais têm instinto maternal. Todos os seres, excepto eu…


Não me atrevi a exprimir este meu falhanço. E fui-me esquecendo aos poucos, conforme ia aprendendo a conhecer o meu filho, desta estranheza que senti quando o vi pela primeira vez. Ele conquistou-me pela sua personalidade! Isto deveria valer muito mais do que o amor espontâneo, animalesco.


Mais tarde encontrei muitas mulheres que passaram pela mesma situação. Todas escondiam a vergonha de não terem sentido uma conexão com os filhos desde os primeiros momentos da fertilização…


Deve ser um dos tabus da maternidade…

"The moment a child is born, the mother is also born. She never existed before. The woman existed, but the mother, never. A mother is something absolutely new." Rajneesh

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